Jackie, de Pablo Larraín
Filme: Jackie
Realizador: Pablo Larraín
Ano: 2016
Este Jackie relata-nos o dia e os dias posteriores ao assassinato do presidente John F. Kennedy pela perspectiva da sua mulher, Jacqueline Kennedy. O filme começa quando Jackie dá uma entrevista a um jornalista, na sua casa, algumas semanas depois da morte do marido e a ordem descrita dos acontecimentos segue a conversa entre ambos, não havendo uma narração dos acontecimentos por ordem cronológica. O retrato é muito mais emocional e psicológico e, por isso, a linha narrativa também se vai alterando consoante as memórias que Jackie vai revivendo.
Este é um retrato tão fiel quanto possível de Jackie e da sua vivência durante aqueles dias, do trauma de ter presenciado o assassinato do marido, da sua tristeza e da sua dor que, por vezes, tem de ser posta de lado para dar lugar a aspectos mais práticos e políticos - como é o caso do juramento de Lyndon Johnson no avião, no regresso de Dallas a Washington. Assistimos a esta perda monumental para Jackie, à preparação do funeral inspirado no funeral de Abraham Lincoln, ao controlo que ela consegue ter em público, mas também a momentos em que parece perdida e tão, mas tão sozinha. Foi o que mais senti, foi que ela era uma mulher sozinha a adaptar-se a esta nova situação: de viúva, de mãe que terá que educar os seus dois filhos sozinha, de ex-primeira dama dos Estados Unidos, de mulher num mundo governado por homens que tentaram impôr-se às suas vontades, mas também de alguém que luta para definir o legado do marido.
Eu adorei o filme. Eu gosto imenso de biopics, e gosto imenso da Natalie Portman, por isso já de si só estava com bastantes expectativas. Portman tem uma representação fantástica, perfeccionista, ao ponto de a própria actriz ter tido aulas para se conseguir aproximar ao máximo do sotaque e dos maneirismos de Jacquie, estudando entrevistas e vídeos que existem dela. Consta, ainda, que o filme foi praticamente feito com primeiros takes - um terço das cenas de Portman foram filmadas à primeira, e as restantes também não precisaram de muitos takes para ficarem no filme. Gostei imenso do retrato desta mulher que se manteve forte apesar de tudo, que mostra querer quebrar em alguns momentos, mas que consegue arranjar forma de se manter de pé. Mostra uma mulher com uma complexidade e intensidade emocional incrível perante um momento tão doloroso e inesperado como o que vive. O final é maravilhoso, há um crescendo emocional que nos leva lá, e as cenas, os diálogos, os actores, a banda sonora estão impecáveis. Não consigo mesmo apontar algo de que não tenha gostado. Fiquei com vontade de ler tudo sobre a Jacquie, mas isso sou eu que tenho a tendência para ficar um nadinha obcecada com personagens de quem gosto...