As coisas que me passam pela cabeça
Gosto de algum hip-hop e rap, mas não sou fã. A primeira vez que vi a Nicki Minaj num vídeo pensei: "mais uma sem nada na cabeça, só mamas e rabo". Depois veio o vídeo e a música "Anaconda" que só reforçou ainda mais o meu pensamento. Mas depois pus a massa cinzenta a trabalhar a sério.
"Anaconda" parte de um sample de uma música chamada "Baby Got Back" do Sir Mix-a-Lot, cuja canção original começa com o poético verso: "I like big butts and I cannot lie". Ou seja: uma ode de um homem aos rabos das mulheres. E é só isto. Ora, se a música foi aceite e é tida, hoje, como um hino do hip-hop aos rabos grandes das gajas, porque raio uma gaja não pode fazer uma ode ao seu próprio rabo e ao sexo sem ser vista como uma vaca? Se é um homem a falar de sexo, de gajas boas e de as comer de todas as formas e feitios, está tudo bem. Mas valha-nos Deus uma gaja falar das mesmas coisas e nos mesmos termos!
Podem olhar para o vídeo e pensar que é sexista, que objectifica a mulher e que isso ainda é pior quando feito por uma mulher, que a Nicki Minaj é mais uma a ter uma imagem hipersexualizada e a servir-se disso para ter sucesso na música. Mas pensem melhor: numa época em que se fala tanto da mulher assumir a sua independência, a sua sexualidade, a ter poder sobre as escolhas que faz sobre o seu corpo... Faz sentido estarmos a condenar a Minaj? A imagem forte e agressiva são escolhas conscientes da parte dela. Quem se está a rir disto tudo é ela.
Deixemos a Nicki fazer músicas sobre o seu rabo, sobre as suas mamas, sobre andar a montar os gajos que quiser, sobre o seu poder e estatuto enquanto mulher no mundo do rap, maioritariamente masculino e machista. Nicki Minaj é uma feminista e ainda pouca gente percebeu isso. É mais fácil vê-la como uma vaca, que assim a ameaça é menor.
Confesso que começo a gostar da Nicki.