02.Dez.13
Como pensar a ideia da própria morte?
Diana M.
Aproxima-se o Natal e, no meu caso, o aniversário da minha avó paterna, que faz anos no dia 24. Todos os anos ela nos diz, "não sei se para o ano cá estarei..." Mas acho que esta frase é algo que todas as pessoas idosas dizem. Afinal, os meus avós já passaram os 80 anos e, além disso, os problemas de saúde vão-se acumulando.
Mas ontem pus-me a pensar nessa frase dita de ano para ano, quase com a mesma naturalidade com que se diz "hoje está frio". Como é que se encara a ideia da própria morte? Nos últimos três anos assisti à morte de algumas pessoas que me eram próximas: uma tia, que também já tinha passado dos 80, a minha avó materna, que não tinha chegado aos 70, e uma amiga, com a minha idade, ambas vítimas de cancro. E depois penso, eu estou quase nos trinta e a ideia de morte não me passa pela cabeça. Claro que posso sempre sair de casa e ser atropelada por um autocarro e aí kaput. Mas é algo que não está presente nos meus pensamentos.
Mas e uma pessoa que já tem 70, 80, 90 anos? Assistir ao desaparecimento dos seus irmãos, primos, comadres e compadres, e no silêncio de cada um ecoar a pergunta "quando é que vai chegar a minha vez?" O meu avó paterno foi ao funeral da minha avó materna e chorou. Praticamente não se conheceram um ao outro. Conheceram-se no casamento dos meus pais e nos baptizados e pronto. Mas ele não chorava pela minha avó. Chorava, talvez, pelo facto de ver mais uma partir e pela inevitabilidade do seu próprio desaparecimento. Nós sabemos que não duramos para sempre, mas há uma altura em que esse saber se torna mais presente.
Este post parece um bocado mórbido, eu sei. Mas ultimamente o meu avô tem tido alguns percalços com a saúde e dei por mim a pensar nisto. Ver os outros partir é triste. Se for alguém que, ainda por cima, nos é próximo e de quem nós gostamos, ainda é pior. Mas quando atingimos uma certa idade, a ideia da morte parece mais uma certeza do que algo que, eventualmente, irá acontecer daqui a muito, muito tempo. Parece que está mesmo ali ao lado e vive-se na incerteza se duramos mais um dia, mais um mês, mais um ano.
Neste Natal sei que vou ouvir o meu avô e a minha avó dizerem "Oxalá estejamos cá para o ano!" Oxalá que sim. E enquanto nós dizemos "Oh, claro que sim! Havemos de estar todos", quase sem medir aquilo que estamos a dizer, os velhotes hão de pensar "oxalá que sim", talvez com uma certa nostalgia de quem sabe que, mais tarde ou mais cedo, a luz se apagará.