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Dramas de Primeiro Mundo

Dramas de Primeiro Mundo

08.Mai.14

Compasso de espera

Diana M.
Às vezes passo pelas fotos de antigas amigas nas redes sociais e, confesso, sinto uma ponta de inveja. Umas casam-se, outras têm filhos, outras atingiram uma independência que lhes permite viverem sozinhas, e às vezes sinto que perdi o comboio. Que cheguei atrasada. Não que a minha necessidade seja ter um marido ou filhos, a parte da independência financeira até vinha a calhar, mas tudo é relativo.

Costumo dizer que entre os meus 18 e os, vá, 21 ou 22 anos foram assim um buraco negro da minha vida. A minha vida estagnou. Andei perdida e tive que me virar sozinha.  Foram três ou quatro anos em que me alienei de tudo e de todos, e foi nesses anos e nos anos seguintes que desaprendi e aprendi a andar. Confesso, inclusive, que não me lembro de muita coisa. E é por isto que considero que tudo é relativo.

Enquanto os meus amigos de escola seguiram as suas vidas como é suposto, uns foram para a faculdade, outros foram trabalhar, namoraram, começaram a construir as suas vidas, eu deitava a minha abaixo, alicerces incluídos. Esses amigos saíram à noite, fizeram outros amigos, passaram verões inteiros juntos, fizeram inter-rails, erasmus, divertiam-se à grande e gozaram ao máximo as suas vidas. Eu sofria o acúmulo de vários problemas pendentes, durante vários anos, que resolveram cair em cima de mim todos ao mesmo tempo. Eu também saí à noite, e fui à praia com amigos e a concertos e tal, mas tinha sempre uma nuvem negra que me perseguia. Eu também entrei na faculdade. E desisti passados três dias. Passei um ano em casa e voltei a entrar na faculdade. E só de pensar que tinha de entrar no edifício e lidar com pessoas, só me apetecia saltar da janela. Chumbei. E isto era só um dos meus problemas. Depois, mudei de curso.

Só a meio da licenciatura, há coisa de cinco anos, é que me permiti começar a dar ao mundo outra vez. Fiz amigos na faculdade, claro que sim. Tenho amigos e conhecidos, e consegui perceber que tenho a capacidade de me regenerar. Consegui fazer uma licenciatura, um mestrado e espero partir, em Setembro, para o doutoramento. Só agora, vejam bem, é que encontrei o meu caminho. Estou quase nos 30. Só nestes dois ou três anos é que me comecei a compreender, a aceitar e a respeitar. A perceber que há males que vêm por bem, que se calhar não devia ter inveja das amigas que casam, que têm filhos, que viajam, etc, porque eu fiquei com a vida pendente, enquanto elas iam em frente. Eu tive que passar por um compasso de espera, elas não. Eu tive que me reconstruir completamente e perceber quem sou e o que quero.

Por isso, Diana, não tenhas inveja. Pensa que um dia chegará em que tudo aquilo que tens, tudo aquilo que és, e tudo aquilo que te rodeia é precisamente aquilo que sempre desejaste e aquilo de que realmente necessitas. E virá no momento certo. Cada um tem o seu caminho e este é o teu. Não tenhas pressa e desfruta da paisagem :)

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